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Artur Salada Ferreira, administrador do Lisboa Biz (Foto: Inês Antunes)

Teletrabalho

Por: Artur Salada Ferreira, administrador do Lisboa Biz

Esta pandemia que nos põe a vida num pandemónio, veio evidenciar que o ser humano tem capacidades que, nos momentos mais difíceis, como a guerra, por exemplo, acabam por ser o motor de muito desenvolvimento tecnológico.

É especialmente relevante na 1ª e na 2ª grandes guerras, na indústria das telecomunicações e da aeronáutica: a necessidade aguça o engenho.

Os princípios que possibilitam o teletrabalho e o ensino à distância estão disponíveis e são explorados há décadas, mas nunca com a importância que lhe foi dada nesta emergência nacional por que estamos a passar.

No ensino, só foi possível erguer uma alternativa ao ensino tradicional, porque muito havia já sido feito. O primeiro veículo de ensino à distância havia já sido a Telescola desde meados dos anos 60 até 1987. A Telescola permitiu aos alunos que viviam distantes de uma escola física a uma menor desigualdade de oportunidade no acesso ao ensino.

“Os princípios que possibilitam o teletrabalho e o ensino à distância estão disponíveis e são explorados há décadas”

A Internet acrescentou ao ensino à distância uma flexibilidade e um potencial que a televisão não poderia fornecer. Em conjunto, a tecnologia do passado e a tecnologia do presente permitiram criar novas soluções que a generalidade dos estudantes recebeu com interesse e aprovação.

As soluções implementadas no ensino à distância nesta fase difícil do país e do mundo mereceram o meu aplauso, quer pela qualidade, quer pela quantidade do que foi implementado em tão pouco tempo. É um trabalho imenso para a variedade de soluções adotadas.

As tecnologias, sobretudo as da Informação e Comunicação (TIC), desde há muito permitiam soluções de teletrabalho. Já na década de 1970, as grandes multinacionais apresentavam soluções para o teletrabalho utilizando a tecnologia disponível. Contudo, a exploração massiva do teletrabalho dá-se no contexto da atual pandemia da Covid-19, que forçou o distanciamento dos colaboradores de uma mesma empresa.

O teletrabalho é hoje adotado por pequenas, médias e grandes empresas, devido ao baixo custo e fácil implementação de soluções. Isto não significa necessariamente que seja sempre vantajoso que uma quantidade de pessoas esteja permanentemente em teletrabalho. Uma solução pode passar por um critério de alternância de teletrabalho e trabalho presencial.

Do ponto de vista do empregador, pode parecer que tudo são vantagens, uma vez que existe a possibilidade de aumentar a força de trabalho sem a necessidade de aumentar o espaço físico disponível.

“O teletrabalho é hoje adotado por pequenas, médias e grandes empresas, devido ao baixo custo e fácil implementação de soluções. Isto não significa necessariamente que seja sempre vantajoso”

Nesta fase, parece que o teletrabalho é solução para todos os problemas da economia, resultantes da pandemia.

No passado, gerou-se um movimento defensor da adoção do horário flexível. Basicamente, assentava no princípio de que os trabalhadores não tinham de estar presentes na empresa no mesmo horário. Esta organização de horário, tem vindo a dar lugar a outra forma de flexibilização, que as tecnologias permitem e chama-se teletrabalho.

O teletrabalho veio para ficar. Se é certo que o teletrabalho ganhou uma posição de relevo depois da pandemia, não se pense que tudo são vantagens na sua adoção.

Uma sociedade digital vinha já nascendo, mas a sua implementação era feita a um ritmo muito cauteloso. A pandemia da Covid-19, ao ter como principal exigência o distanciamento entre as pessoas, leva a que os colegas que trabalham no mesmo espaço alternem com teletrabalho.

Assim, muitos trabalhadores passam a trabalhar em casa, ou a partir de casa com visíveis vantagens, mas também inconvenientes:

– Os trabalhadores passam a alternar o trabalho em casa (teletrabalho) com o trabalho na empresa. Pensamos ser o modelo mais vantajoso para o trabalhador e para a entidade patronal;

O teletrabalho, a tempo integral, produz um distanciamento entre o empregado e o empregador, que pode levar a um desinteresse e falta de coesão social no controlo das operações.

Exigir que o trabalhador use a sua casa e aumente os seus consumos de serviços como água e eletricidade, é inaceitável. Do meu ponto de vista, é, sobretudo, penalizante para o trabalhador, ter a sua casa permanentemente indisponível para a família e para os amigos.

Com grande entusiasmo, é largamente adotado, vai se adaptando às alterações que as circunstâncias da vida vão exigindo ultrapassando os obstáculos, como está a acontecer com a Covid-19.

“Exigir que o trabalhador use a sua casa e aumente os seus consumos de serviços como água e eletricidade, é inaceitável.”

Já se ouvem vozes de trabalhadores desejando voltar ao convívio da empresa, e pontualmente utilizar as potencialidades do teletrabalho. Parece não haver dúvidas de que a tecnologia será muito importante, nomeadamente a teleconferência. Pode até dar-se o caso de vir a existir uma redução da sua utilização no período pós-pandemia, mas a generalização da utilização da teleconferência é sem dúvida uma das grandes mais-valias que podem sair deste período de confinamento forçado.