Por: Ana Vieira
É desde 1920, e a partir de Matosinhos, que a Conserveira Pinhais & Cia mantém o método tradicional na produção de sardinhas enlatadas artesanais.
Com 140 trabalhadores, e uma faturação a chegar aos seis milhões de euros em 2024, a lata de sardinha Nuri, em tom amarelo e com design vintage original, mantém-se o best-seller da Conserveira, feita e embalada à mão.
Parte da Glatz GmBH, um grupo familiar com sede em Viena, Áustria, a Conserveira exporta 95% da sua produção para mais de 40 países, numa opção estratégica de “valorização da autenticidade do nosso processo artesanal e do rótulo “Made in Portugal”, que atrai consumidores em busca de produtos premium, reais e sustentáveis”, como explica Nuno A. Rocha, diretor comercial da Conservas Pinhais & Cia em entrevista à PME Magazine.
PME Magazine (PME Mag.) – Como é que a Conserveira Pinhais & Cia mantém a tradição artesanal na produção das suas conservas, ao mesmo tempo que inova para responder às exigências do mercado atual?
Nuno A. Rocha (N. A. R.) – Desde 1920 que a tradição artesanal está no DNA da Conserveira Pinhais & Cia, através de métodos manuais cuidadosamente preservados ao longo de mais de um século.
“95% da nossa produção é exportada para mais de 40 países”
Iniciando-se a diferenciação logo no momento da rigorosa seleção do peixe, passando pela preparação minuciosa de cada sardinha e até ao embalamento final feito exclusivamente à mão, cada etapa do processo reflete um compromisso com a qualidade e autenticidade. No entanto, dadas as exigências do mercado atual e tomando em consideração que 95% da nossa produção é exportada para mais de 40 países com características e culturas gastronómicas distintas, na empresa aliamos essa tradição à inovação, investindo em novos produtos, embalagens sustentáveis e estratégias de comunicação mais abrangentes para alcançar um público global. Dessa forma, equilibrando a herança artesanal com as exigências do mercado atual, garantimos a excelência dos nossos produtos e reputação das nossas marcas sem comprometer os valores que a definem, intimamente ligados à cultura gastronómica de Portugal.
PME Mag. – Quais os produtos estrela e qual o público alvo?
N. A. R. – Com uma alta especialização em Sardinha e uma cultura interna positivamente “obsessiva” em produzir as melhores de Sardinha do mundo, desde há várias décadas que o nosso produto estrela – e bestseller – são as Conservas Nuri na receita de Sardinhas em Azeite Picante (com especiarias). Esta receita mantém-se inalterada desde a década de 30 e continua a conquistar fans da marca e do seu sabor além-fronteiras.
“(…) conservas de alta qualidade para serem apreciadas naqueles momentos especiais”
O público alvo caracteriza-se por consumidores exigentes e com uma consciência crescente sobre alimentação saudável, prática, e relativamente acessível. Dedicamos o nosso saber e experiência secular a produzir conservas de alta qualidade para serem apreciadas naqueles momentos especiais, em família, entre amigos ou simplesmente numa data ou local memoráveis.
Uma inovação recente e que está rapidamente a ascender a “estrela” é a nova receita de Sardinhas em Azeite e Limão, onde utilizamos apenas limão português fresco, cortado delicadamente à mão no momento de ir para a lata. 100% natural, sem qualquer aditivo, aroma ou conservante. Outras edições especiais como a exclusiva Nuri Reserva (que inclui uma maturação mínima de 36 meses) ou como o recém lançado Garfo Nuri valorizam a experiência do consumidor para além do próprio produto, simbolizando a tradição, exclusividade e ligação emocional entre a marca e os seus entusiastas.
PME Mag. – Quais são as principais práticas sustentáveis adotadas na pesca e produção, e de que forma contribuem para a preservação dos recursos marinhos?
N. A. R. – Apostamos em diversas práticas sustentáveis na pesca e produção para garantir a preservação dos recursos marinhos. Na pesca, por forma a reduzir o impacto nos ecossistemas a pegada ambiental, privilegiamos sempre fornecedores locais e certificados que utilizam exclusivamente métodos sustentáveis, como a pesca com redes de cerco e a compra do peixe fresco à 1ª hora na lota local.
Além disso, respeitamos os períodos de defeso e os limites de captura estabelecidos por organismos reguladores, tendo uma fábrica / metodologia de produção certificada pela MsC e respetivas boas práticas inerentes. Na política de aquisição do peixe, privilegiamos a compra responsável do pescado pela prática de um preço justo para o respetivo pescador.
Na produção, investimos também na melhoria constante de processos eco-eficientes, como o uso responsável da água, a redução de desperdícios e a utilização de embalagens recicláveis. Estas medidas contribuem para a conservação dos oceanos, redução do desperdício e valorização dos produtos pela economia circular crescente, assegurando a sustentabilidade da pesca e a continuidade da oferta de pescado de alta qualidade para as futuras gerações.
PME Mag. – Quais têm sido os principais desafios enfrentados pela indústria conserveira portuguesa nos últimos anos e como a empresa tem superado essas dificuldades?
N. A. R. – Nos últimos anos, a indústria conserveira portuguesa tem enfrentado diversos desafios, nomeadamente ao nível da escassez de matéria-prima devido à anterior sobrepesca e alterações climáticas, assim como o aumento dos custos de produção (energia, transporte e matérias-primas como azeite) mas também a necessidade de adaptação às exigências dos novos consumidores, que procuram produtos mais sustentáveis, saudáveis mas também com uma história real, exigências às quais temos conseguido responder com sucesso. Além disso, a concorrência global e as flutuações económicas também impactam o setor.
” (…) temos investido na modernização das instalações sem comprometer os métodos artesanais”
Para superar essas dificuldades, a Pinhais & Cia tem apostado em práticas sustentáveis na pesca e produção, garantindo um abastecimento responsável de peixe e uma relação de simbiótica com a comunidade local que vamos apoiando enquanto consumidores, empregadores e fonte de estabilidade familiar. Também temos investido na modernização das instalações sem comprometer os métodos artesanais e herança cultural, fortalecendo a identidade da marca. Além disso, a diversificação de mercados, através da exportação para novos mercados e da comunicação digital, têm sido elementos fundamentais para manter a competitividade e a presença internacional da empresa.
PME Mag. – Como é que a Pinhais & Cia tem trabalhado para reforçar a presença internacional e conquistar novos mercados?
N. A. R. – Temos vindo a reforçar a nossa presença internacional através de uma estratégia que combina os 3 pilares da empresa: Família, Tradição e Qualidade Única dos produtos. Temos investido consolidação em mercados maduros e expansão para novos mercados, promovendo os produtos em eventos internacionais e estabelecendo parcerias com distribuidores e retalhistas selecionados e com reputação similar à nossa filosofia. Além disso, apostamos no comércio eletrónico, para permitir que consumidores de diferentes países possam experimentar as nossas conservas mesmo que ainda não exista uma rede de distribuição estruturada na cidade/país onde se encontram.
Outro fator-chave tem sido a valorização da autenticidade do nosso processo artesanal e do rótulo “Made in Portugal”, que atrai consumidores em busca de produtos premium, reais e sustentáveis. Com esta abordagem, aliada a uma produção exclusiva, distribuição seletiva e outras opções estratégicas protecionistas das nossas marcas (como a opção de não produzirmos para quaisquer outras marcas externas), temos conquistado a confiança de novos mercados e consolidado a reputação de produtor de referência a nível internacional.
PME Mag. – Qual tem sido o impacto do museu “Pinhais Living Museum” na valorização da história da empresa e na aproximação com o público?
N. A. R. – O Museu-Vivo Conservas Pinhais&Co – Factory Tour, inaugurado em 2021, tem tido um impacto significativo na valorização da história da “Casa da Nuri” e na aproximação com o público.
” (…) o Museu tem fortalecido a ligação emocional bidirecional entre os consumidores e fans da marca e os nossos colaboradores”
Ao oferecer uma experiência inédita e imersiva – que inclui a visita guiada à fábrica, a explicação dos processos, a experiência pessoal de fazer uma lata e terminando com uma prova de conservas – a visita permite que milhares de pessoas anualmente conheçam de perto o processo artesanal de produção das nossas conservas, nas fases do processo que esteja a decorrer nesse dia. Além disso, o Museu tem fortalecido a ligação emocional bidirecional entre os consumidores e fans da marca e os nossos colaboradores, que diariamente se orgulham de interagir e poder mostrar o seu trabalho e experiência a visitantes de todas as nacionalidades, promovendo o património conserveiro português e destacando o papel humano e da empresa na história da indústria.
Esta iniciativa tem contribuído também para o reconhecimento da marca a nível nacional e internacional, aumentando o conhecimento dos consumidores através de um processo educacional e o prestígio dos produtos que fazemos, enquanto reforça a identidade e os valores da Conservas Pinhais.